EUA, UE e Otan acusam China de hackear servidor da Microsoft em campanha global de ciberataques

WASHINGTON — Num movimento coordenado, os Estados Unidos, a União Europeia e a Otan, a aliança militar liderada por Washington, acusaram nesta segunda-feira o governo chinês de ter sido responsável pelo hackeamento do servidor de e-mails da Microsoft, no início deste ano, e de conivência com grupos criminosos dedicados ao roubo de dados de computadores.

Foi a primeira vez em que a Otan —  cujo escopo tradicional de ação é o Atlântico Norte —  acusou Pequim de um crime cibernético. Na sua cúpula de junho deste ano, já com Joe Biden na Casa Branca, a aliança militar disse pela primeira vez que a China é “um desafio sistêmico”. O governo chinês ainda não se pronunciou.

“O governo chinês deve acabar com a sabotagem cibernética sistemática e pode esperar ser responsabilizado se não o fizer”, disse o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, em comunicado nesta segunda-feira. A Casa Branca disse que está se unindo aos países europeus para expor a escala da atividade da China no espaço informático e que também tomará medidas para combatê-la.

“Estados responsáveis não comprometem indiscriminadamente a segurança da rede global nem abrigam criminosos cibernéticos, muito menos patrocinam ou colaboram com eles”, disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em um comunicado. “Esses hackers contratados custaram bilhões de dólares a governos e empresas em propriedade intelectual roubada, pagamentos de resgate e esforços de mitigação de segurança cibernética, enquanto o Ministério da Segurança do Estado da China os tinha em sua folha de pagamento.”

O chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, disse que o ataque cibernético foi conduzido da China e “resultou em riscos de segurança e perdas econômicas significativas para nossas instituições governamentais e empresas privadas”. As atividades estavam ligadas aos grupos de hackers Advanced Persistent Threat 40 e Advanced Persistent Threat 31, de acordo com um comunicado da UE nesta segunda-feira.

Além de EUA, UE e Otan, o grupo de nações que atribuiu o ataque à China ainda inclui Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Japão. O ataque, que ocorreu ao longo de duas semanas entre o final de fevereiro e o início de março, expôs dezenas de milhares de correios eletrônicos, incluindo de sistemas de saúde, indústrias, empresas de energia e governos estaduais e locais nos EUA.

Aumento das tensões

O anúncio desta segunda-feira aumenta ainda mais os embates econômicas, militares e políticos entre os EUA e a China. As tensões se intensificaram na semana passada, quando o governo Biden alertou os investidores para os riscos de se fazer negócios em Hong Kong, em um comunicado no qual disse que o maior controle da China sobre o território semiautônomo ameaça o Estado de direito e põe funcionários e dados em risco.

Os EUA também acusaram quatro cidadãos chineses ligados ao Ministério da Segurança de uma campanha para invadir sistemas de computador de dezenas de empresas, universidades e entidades governamentais nos EUA e no exterior entre 2011 e 2018. A acusação alega que os hackers visaram, entre outras coisas, a pesquisa da vacina do Ebola.

Biden, como seu antecessor Donald Trump, considera a competição com a China um dos maiores desafios do século para os EUA. Diferentemente do republicano, porém, ele tem buscado uma articulação contra Pequim com os aliados tradicionais dos EUA.

Os líderes chineses ficaram surpresos com a decisão de Biden de deixar em vigor as tarifas comerciais impostas por Trump e ficaram furiosos com seu apoio à abertura de uma segunda investigação sobre as origens da pandemia da Covid-19.

Com o relatório desta segunda-feira, os EUA pretendem mostrar como o Ministério de Segurança da China usa hackers criminosos para conduzir operações cibernéticas em todo o mundo, inclusive para seu próprio lucro pessoal.

“Em alguns casos, estamos cientes de que os operadores cibernéticos afiliados ao governo da República Popular da China realizaram ataques cibernéticos contra empresas privadas que incluíram pedidos de resgate de milhões de dólares”, informou a Casa Branca.

O Ministério das Relações Exteriores da China não respondeu imediatamente a um pedido de comentários. Em março, o ministério rejeitou as alegações de que hackers do governo chinês estavam por trás dos ataques cibernéticos a servidores da Microsoft, acusando a empresa de fazer “acusações infundadas” e dizendo que rastrear a origem dos ataques cibernéticos é uma “questão política altamente sensível”. A China há muito insiste que não é um perpetrador, mas uma vítima de ataques cibernéticos.